quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Marrocos


















O Marrocos é mágico. Embalou meus sonhos adolescentes de liberdade e rebeldia e foi cenário imaginário de muitas curtições. Quem, na década de 70, não queria desbundar em Marrakech? Era a Meca dos hippies e do paz e amor. Até o Mick Jagger comprou casa lá. Infelizmente, ou talvez até felizmente, quem sabe, naquela época não tive oportunidade de ir.
Mas, como diz uma amiga minha, antes tarde do que nunca, e com alguns anos de atraso, afivelei as malas e rumei feliz da vida ao glorioso Reino do Marrocos.
Como estava em Sevilha, voaria para Casablanca com conexão para Marrakech. Escolhi a Royal Air Maroc, que segundo percebi por um passageiro que reclamava aos berros e quase literalmente apanhava da aeromoça, atrasa sempre. Realmente atrasou, 5 horas. Apesar da aeromoça furiosa ter garantido que a conexão aguardaria (ahaha), cheguei em Casablanca e o aeroporto estava literalmente fechado. E agora, o que fazer? Não tinha ninguém para dizer nada, nenhum guichê aberto, muito menos o da tal Royal Air Marroc. Não quero ficar aqui, quero ir para Marrakech! A essa hora será que rola o Marrakech Express? Eram 2 horas da madrugada e eu vagando pelo aeroporto de Casablanca, sem uma viva alma para me dar uma explicação. Vou pegar um taxi, pensei, mas Marrakech fica a 250 km. Azar, vou a pé, de carroça, carona, sei la. Fui de taxi. A 150km por hora numa Mercedes 1956, caindo aos pedaços cujo motorista, além de ser péssimo, acho que era surdo pois, com todo o orgulho patriótico desfilou todo o repertório possível de musicas árabes ( tipo sartanejas deles imagino eu, eram horríveis) utilizando todos os decibéis de que seu radio dispunha. Não preciso dizer que fui gritando até la, suplicando “doucement monsieur, doucement monsieur”. Como se adiantasse! Finalmente as 6 horas da manhã chegamos, o motorista, a Mercedes a dor de cabeça monstra e eu, todos vivos.
Ai tudo passou a valer a pena. O meu hotel era o lendário La Mamounia, em estilo Art decô oriental, se é que isto é possível, lugar favorito do Churchill. Inclusive o quarto dele é mantido intacto, exatamente como era no tempo em que ele o frequentava. Marrakech é a cidade dos jardins e o do meu hotel, assim como o Majorelle Gardens, uma fundação pertencente ao Yves St Laurent, são deslumbrantes.
Marrakech é toda rosada, e a Medina, cidade antiga, é toda cercada por muros. Possui o maior Souk (mercado) do pais e a praça mais movimentada da África a Jemaa el-Fna , que além de ser patrimônio mundial da Unesco, alterna o título de grande teatro popular de dia e grande restaurante popular à noite. Em torno das 18 horas, começam a ser montadas centenas de barracas restaurantes que vendem as mais incríveis comidas típicas e a praça lota de locais e turistas ávidos por provar as iguarias.
Mas não é pra menos, a culinária Marroquina é riquíssima. É difícil apontar no mapa um país mais culturalmente diversificado do que o Marrocos. Povoado primeiramente pelos berberes, um povo vindo do Oriente, o país passou pelo poderio dos romanos, dos bizantinos e, depois, dos árabes, que introduziram a religião e os costumes muçulmanos. Na época das grandes navegações foi invadido por espanhóis e portugueses e, no século 20, foi dominado pelos franceses. Isso fez com que especiarias, temperos e sabores de lugares tão diferentes quanto a Índia, a China e a Europa influenciassem os pratos preparados na região. Um dos mais conhecidos condimentos é o Ras Al Ranout, que, na tradução literal, significa “seleção do lojista”. Os donos das lojas de especiarias criam suas próprias combinações de temperos para serem vendidas e, depois, utilizadas na preparação dos pratos. Não existe uma receita específica para a mistura, que pode ter de cinco a 35 especiarias, entre pimenta malagueta, cominho, cardamomo, cravo da- índia, alecrim, tomilho e páprica, entre outros.
O cuscuz, talvez o mais conhecido e tradicional prato do Marrocos, também é servido com inúmeros acompanhamentos, que vão desde o carneiro, a carne mais nobre da mesa marroquina, até frutos do mar, pescados nos portos de Rabat ou de outras cidades do país situadas ao longo da costa atlântica. Os finos grãos de semolina são cozidos em uma panela especial no vapor de um caldo de legumes ou de carne.
Outro hit do Marrocos é o tagine. O segredo está na panela em que é preparado, feita com um prato de barro fundo com uma tampa cilíndrica bem alta na forma de um cone. O vapor fica preso dentro do cone, cozinhando vagarosamente os alimentos, de forma que eles fiquem mais suculentos e saborosos. Sem pressa para despertar o sabor. Os marroquinos acreditam que os sabores mais sutis só podem ser alcançados por meio de um lento cozimento.
Sábios não? O utensílio também é chamado de tagine, assim como os legumes, carnes e peixes cozidos dentro dele.
Mas uma característica que difere os pratos preparados no Marrocos das outras regiões é a presença obrigatória de alguns legumes, como o pimentão, e também de algumas frutas e castanhas que dão o toque agridoce às refeições acrescentando ainda combinações entre especiarias doces – canela, noz-moscada, gengibre – e picantes, como a páprica e as pimentas, intensificando os sabores.
Laranjas, tangerinas e limões em conserva, assim como romãs, peras, tâmaras, amêndoas, nozes e uvas-passas, são utilizadas em diversas receitas, o que torna realmente tudo muito exótico e delicioso. Depois dessa fartura de pratos, um chá de hortelã e docinhos recheados de amêndoas e banhados em mel. O chá de hortelã doce é um símbolo da hospitalidade marroquina, sendo servido em todos os lugares do país, como uma saudação. Houve uma época em que eu só queria comer comida marroquina. Os provocativos e estimulantes sabores salgado, doce, cítrico, todos ao mesmo tempo deixaram minhas papilas gustativas muito exigentes, ao ponto de todas as outras culinárias terem, temporariamente, se tornado monótonas e repetitivas. Confesso que aqui no Brasil foi difícil conseguir os temperos, por isso tive que convencê-las a voltarem atrás e serem mais tolerantes.
Eu tinha certeza que, um dia, o Marrocos me afetaria irremediavelmente. E não precisei pegar o Marrakech Express para isto.
CUSCUZ MARROQUINO DE SEMENTES E PASSAS
Pode ser servido frio como salada, ou quente como acompanhamento de carnes.

INGREDIENTES
3 xícaras (chá) de cuscuz de sêmola ( só tem importado e o da marca Ferrero é muito bom)
3 xícaras (chá) de caldo de galinha (não muito cheias)
100 gr. de nozes picadas
50 gr. de passas pretas
100 gr. de amêndoas picadas
50 gr. de damascos picados
50 gr. de tâmaras picadas
3 colheres (sopa) de azeite de oliva
2 colheres de manteiga
2 colher (sopa) de salsinha picadasal e pimenta do reino a gosto

MODO DE FAZER
Coloque as passas de molho em água mornaAqueça o caldo de galinha. Prepare o cuscuz conforme a embalagem.Enquanto isto coloque ½ colher de manteiga em uma frigideira e “frite” as nozes até que estejam douradas e crocantes, tomando o cuidado de não deixar amargarProceda da mesma forma para as sementes restantes.Escorra e seque as passas e passe na frigideira como as sementes.Ao final misture todos os ingredientes e corrija o salDICA 1: o coscuz, as sementes e as passas podem estar preparadas com antecedência mas misture tudo somente na hora de servir para obter uma textura mais crocante.

















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