quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A CINDERELA E AS TRUFAS


É, eu sei.... andava sumida. Mas juro, era por uma boa causa, alias muito boa, excelente eu diria, com direito a estrelas do Michelin e tudo!


Amigos do blog da Martinha, que por sinal a cada dia que passa se torna mais popular e com maior número de admiradores, eu estava fazendo o que mais gosto nesta vida: viajando, pesquisando e comendo! Parece plágio de título de livro, mas não é, esta sou, eu, euzinha, feliz, rodopiando pelas estradas da Suíça, a procura da melhor raclete, da melhor batata rôsti, do melhor fondue, do melhor chocolate, etc etc etc.



E depois, como se toda a organização, pontualidade, brancura e beleza deslumbrante dos Helvéticos não bastasse, ainda me permiti ao prazer quase ousado de percorrer aquelas regiões nevrálgicas da Itália aonde quem nasceu para comer tem que morrer e ser enterrado.


Estou falando exatamente de Alba, no Piemonte, na época das trufas brancas (outubro, novembro e dezembro); de Bologna na Emilia Romagna onde se come as pastas mais gloriosas (tortelli di zucca, que eu amo, tagliatelle, tortellini in brodo, huuuummmmm) e os assados mais estonteantes; de Florença e Siena na Toscana onde a gente, pobre comensal, se esbalda em trippa alla Fiorentina e panforte de Siena e finalmente, mas nunca menos, da cidade eterna, Roma, com suas carciofi alla giudia, spaghetti alla carbonara e muito, mas muito mais.


Para abrir com chave de ouro esta pequena jornada, vou escolher Alba, quase admitindo ser a escolha de Sofia tamanha a dificuldade em fazê-la.


Após três gloriosos dias entre os palácios barrocos de Turim e a surpreendente beleza e chiquê desta cidade do norte da Itália, partimos: a nossa Passat Station Wagon alugada, nós quatro, mais quatro malas GRANDES, quatro malinhas não tão pequenas, duas mochilas, três bolsas de lap top, um canudo ENORME ( um pôster do Razia assinado que comprei para o meu filho no museu do cinema em Turim), uma dezena de sacolas de compras e um GPS louco que, quando estávamos indo, ainda na Suíça, de Genebra para Interlaken fomos parar na França.


Podem imaginar que os integrantes da caravana rólidei, ou pelo menos parte deles, os que ocupavam o banco traseiro da SW, pouco ou nada viram da bela paisagem dos vinhedos Barolos e Barbarescos do Piemonte, pois duas das quatro malas GRANDES, por total falta de espaço foram acomodadas em seus regaços, o que gerou muitas reclamações, mas não havia nada a ser feito, a mania brasileira do excesso de bagagem triunfara novamente!!!!! Todos conformados, lá saímos nós, virando à direita, seguindo pela esquerda e dobrando na terceira saída da rotatória. A paisagem, pra quem viu, era gloriosa. Os vinhedos vestidos de inverno, nevados em alguns lugares, amarelados noutros, comoviam.




Nossa pousada, Locanda Del Pilone, era no meio das colinas cercada por vinhedos e com vista para o Mont Blanc ao fundo.


Era uma casa construída em estilo Art Deco reformada e adaptada para pousada com cozinha estrelada Michelin. O nosso quarto tinha lareira e uma mini biblioteca com livros históricos da região. Um sonho em que não dava vontade de acordar nunca.


O jantar já estava marcado desde o Brasil, e foi recomendação de um amigo confiável, grande gourmet. Então, leves livres e soltos, desvencilhados das tralhas, partimos para Treiso, cidadezinha microscópica, bem pertinho de Alba, com dois restaurantes estrelados Michelin. O nosso era La Ciau Del Tornavento (a chave do catavento).


A entrada nos impressionou, pois na porta, além da nossa valente SW Passat, esperavam por seus donos entre outros, 1 Lamborghini, 1 Ferrari e um outro carro apoteótico que o Marco meu marido adorou e eu não lembro o nome. Entramos, o lugar era lindíssimo, um porte acima do esperado para a localidade. Como era temporada de trufas brancas, mandamos ver.



Para mim, o ponto alto foi “Uova in Cocotte con Tartufo”, tratava-se de um ovo pochê alla crema ricamente acrescido de trufas brancas raladas cujo perfume exalado ao ralar, excitava até ao mais insensível, destreinado e infeliz olfato. Toda esta iguaria servida dentro de uma linda caixinha de madeira, exatamente como uma jóia que era. Desfilaram outras perfeições pela mesa, mas vou ter que omitir, sob pena de ficar sem comentar a visita à adega de 4 MILHÕES e MEIO de EUROS do restaurante. JURO, é verdade!!!!!!


Vi coisas que achei que jamais veria ao vivo e a cores. Sassicaias, Tignanellos, Barolos Monfortinos a rodo, dos franceses, Petrus, Romannée Conti, Cheval Blanc, fora tudo o que você puder imaginar.


Quase enlouqueci. Fiquei tão nervosa que quase todas as fotos que tirei saíram fora de foco. Era como se estivesse descobrindo os tesouros da tumba de Tutancâmon.


Pena que bateu meia noite, a Cinderela teve que embarcar na sua abóbora e voltar correndo. Mas como toda história de Cinderela tem final feliz, esta certamente não foge à regra. Aguardem que tem mais, muuuito mais....

3 comentários:

Marta Schönfeld disse...

Titinha!
Que maravilha amiga,inteligente espirituosa e chiquérrima! Que prazer te ter neste blog por seres uma das chaves do sucesso dele. Quase morri de rir com a viagem assim como adorei as suntuosas cenas dos melhores restaurantes do mundo com seus cardápios.
Continua assim cada vez mais surpreendente! Bjs Marta

Carla Volkart disse...

Tita!!!! Não há melhor "enviada especial" do que tuuuuuu!!!!! Lembra o filme "comilança"? Pois bem, teus relatos são tão vivazes,localizados e saborosos que me sinto segura em degustar tudo imaginariamente. Feliz de mim porque essa nomenclatura hermética tanto quanto erudita é um verdadeiro Muro de Berlim prás minhas possíveis escolhas gastronômicas. Brigado por revelar o verdadeiro cerne do hedonismo apetitoso. Um brinde com um daqueles Sassicaias extra-terrestres. bjo Carla

Anônimo disse...

titinha, parabens